quarta-feira, 24 de agosto de 2011


A música sertaneja começou com as modas de violas ao anoitecer das fazendas e cidadezinhas do interior. Se por vezes ganham novas roupagens, nunca perdem a essência. Suas letras falam de amor, de fases da vida, da natureza e da convivência no campo. Um universo de violão, estrada e poesia até pouco tempo dominado por cantores masculinos.
Mas vivemos um novo tempo, a descoberta do mesmo sertanejo com uma linguagem mais moderna e uma diferença sutil e delicada: na voz feminina. É isso mesmo! As mulheres estão conquistando seu pedacinho neste gênero musical, lugar onde sempre estivam presente como inspiração nas composições. Hoje elas compõem e cantam suas próprias versões dos sonhos de amor.
O Tempo de Mulher conversou com três cantoras sertanejas, Paula Fernandes, Maria Cecília e Janaynna. Elas enfrentaram desafios e preconceitos por entrarem num mundo pouco afeito a pessoas sensíveis. E provaram que não é na força que se vence, mas no amor à música, com dedicação e talento.
Elas vêm de lugares diferentes do Brasil. Paula Fernandes, 26 anos, é mineira e fala de sua vocação: "Não foi eu que escolhi a música, a música que me escolheu. Cresci ouvindo Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho no radinho de pilha de minha vó, minha essência sempre foi sertaneja".
A cantora Maria Cecília Serenza Ferreira Alves (da dupla Maria Cecília e Rodolfo), 26 anos, de Campo Grande diz: "A música sertaneja sempre esteve na minha história, mas eu não cantava, achava difícil. Aos 17 anos comecei a cantar MPB. Foi na faculdade de zootecnia que tive mais contato com ela. Nessa época conheci o Rodolfo, que sempre foi apaixonado por esse estilo. Fomos descobrindo que gostávamos das mesmas músicas. Os amigos da faculdade pediam para ele tocar, eu sabia as letras e cantava com ele, a gente se completou", derrete-se.
Janaynna Targino, 25 anos, também de Campo Grande, conta que seu interesse vem do pai, que também era músico: "Desde pequena fui envolvida pelo universo da música sertaneja. Meu pai cantava em um trio, eu o acompanhava. Aos nove anos já cantava em festas, bares, em qualquer lugar. Meu pai também era delegado, então, estava bem protegida. Por causa da família, ele não seguiu carreira na música. Foi através de mim que realizou esse sonho".



Enfrentando desafios

Em um mundo cercado de regras, era muito difícil para uma mulher sozinha sair estrada afora em busca do sonho de viver da arte. "Não foi nada fácil, são 19 anos de muita luta, mas acredito que tudo tem a hora e o momento certo para acontecer. Estou muito feliz com todo o sucesso", diz Paula Fernandes.
Janaynna, na adolescência, quase abandonou a careira artística, o pai e a mãe não podiam acompanhá-la. Para continuar viajando e fazer shows, formou dupla com o irmão mais velho. Ela era a única mulher entre quatro irmãos. A dupla durou apenas dois anos. "Minha vontade sempre foi cantar sozinha, mas para continuar minha carreira precisava de alguém de confiança que pudesse viajar comigo. Em 15 anos de estrada, hoje vejo que existiu muito tabu. A mulher era muito taxada, diziam que nunca faríamos sucesso", desabafou Janaynna.
Maria Cecília iniciou suas viagens com 22 anos, ao lado do amigo Rodolfo. Depois se apaixonaram e hoje são o único casal da música sertaneja. A cantora fala sobre o preconceito da mulher nesse universo: "É difícil! Mas acho que ainda falta mulher nesse meio. Existe um receio muito grande sobre da voz feminina cantando sertanejo. A minha voz, a voz da Paula Fernandes são vozes mais graves, e têm uma aceitação grande pelo público. Caiu no gosto da galera, é gratificante!".



Contando histórias com um olhar feminino

Entre milhares de letras onde o homem sofre uma decepção ou decide amar outra pessoa, as mulheres também vivem essas experiências e hoje têm representantes que compõem numa visão de quem ama como elas. "Fico feliz por representar a mulher neste universo tão maravilhoso, transmitindo nossa versão feminina", completou Paula.
Maria Cecília fala da inspiração na hora de compor: "Eu quero colocar para fora esse sentimento feminino. Somos fortes como os homens, mas de uma forma diferente, temos que ser delicadas, sensíveis, chorar e ter coragem de falar o que sentimos". Já Janaynna diz que sempre buscou o lado feminino. "Minha preocupação é: o que fazer para conquistar as mulheres para o meu lado? Então, comecei a compor letras bem feministas. É incrível e um prazer puxar essa fila".

Fonte: Tempo de Mulher

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