Em entrevista, a dupla, que completa 43 anos de estrada em setembro (com mais de 37 milhões de álbuns vendidos), falou sobre o começo, o meio e… o futuro.
Do Tamanho do Nosso Amor foi produzido por Fernando (da dupla Fernando & Sorocaba) e reúne canções inéditas e grandes sucessos da carreira, com participações especiais de Dexterz e do rapper Cabal. “A música sertaneja mudou muito”, explica Xororó. “E estamos sempre nos renovando, antecipando tendências…”
A dupla, que completa 43 anos de estrada em setembro (com mais de 37 milhões de álbuns vendidos), falou sobre o começo, o meio e… o futuro – “a gente gosta demais do que faz para pensar em parar”, avisa Chitão.
A seguir, os melhores momentos da conversa.
Após 43 anos de carreira, ainda se sentem desafiados?
Chitãozinho: A cada projeto, até porque não conseguimos nos programar com antecedência. Esse negócio de pensar nos próximos cinco anos, por exemplo, não funciona com a gente. Em 2010, quando completamos 40 anos de carreira, saímos em turnê pelo Brasil inteiro. Fizemos shows até o ano passado. Aí, recebemos um convite do maestro João Carlos Martins.
Xororó: As coisas vão acontecendo. O desafio, agora, é este Do Tamanho do Nosso Amor: o DVD, o CD, um novo show, com novo conceito.
Mas por que novo conceito se vocês ainda tocam tanto nas rádios pelo País todo?
Xororó: É que percebemos que as músicas que tocam são as mais antigas. Aí, falamos: “Caramba, a gente precisa renovar esse nosso som, tem muita coisa antiga (risos). A ideia, então, foi dar uma reciclada.
Chitãozinho: Aí chamamos o Fernando (da dupla Fernando & Sorocaba).
Xororó: A gente se identifica muito com o som deles e queríamos que o Fernando fizesse os arranjos de duas ou três músicas. Só que, quando ele mandou o material de volta… né, Chitão?
Chitãozinho: Aí, complicou, porque estava bom demais. Ele havia entendido perfeitamente o que a gente queria. E eu disse: “Rapaz, acho melhor ele fazer tudo!”
Ou seja, vocês complicaram a agenda do Fernando.
Xororó: (risos) Pois é. A gente queria fazer um CD e gravar o show para registro na internet, com edição dinâmica, cortes rápidos. Só que o trabalho ficou excelente.
Chitãozinho: Quando a gente mostrou a captação de vídeo para o pessoal da Som Livre, eles disseram: “Que internet o quê! Isso é um DVD!” E o pior é que eu já tinha mixado em estúdio para o CD… tive de refazer tudo.
A ideia de modernidade já está na capa do DVD, né?
Chitãozinho: Com certeza. Assim que vimos a foto (são as mãos de uma jovem com um iPhone, fotografando o show), pensamos: “É a capa!”. Porque não tem nada mais moderno. Era o que a gente queria.
O público jovem gosta muito de vocês. Como se explica isso?
Chitãozinho: É muito emocionante. Durante a gravação do DVD, isso pegou muito a gente. Depois da última música, tem um bônus que é só o público, muito jovem, cantando Evidências. Vou te dizer: eu não aguentei, comecei a chorar.
Vocês são tidos como a dupla que abriu as portas das rádios FM para a música sertaneja, em 1982. Sentem essa importância?
Chitãozinho: A gente ouve muito isso… acho que fomos os primeiros a derrubar o preconceito que existia em relação à música sertaneja.
Xororó: Fomos os primeiros a ousar, com certeza.
Chitãozinho: Porque, no começo da carreira, era um gueto. Muita gente tinha vergonha de dizer que ouvia música sertaneja. Era comum o “doutor”, o empresário, mandar o motorista na loja comprar o disco. Mas, de repente, a gente estava frequentando os shows do pessoal da MPB, do rock, da Jovem Guarda. E o público cantando junto.
Xororó: A gente sentiu necessidade dessa mudança. Mudança de postura, de roupa, de sonoridade. O desafio foi fazer isso sem perder nosso público tradicional. Então, num mesmo disco, a gente juntava músicas com uma bateria mais pesada, por exemplo, e outras com a presença da viola. Hoje, é comum ver, nos shows, famílias inteiras, várias gerações de fãs.
Vocês estão planejando um filme biográfico, ao estilo 2 Filhos de Francisco? Vai ser dirigido pelo Fernando Meirelles?
Xororó: Existe, sim, um projeto. A gente precisa é parar para alinhavar os detalhes.
Chitãozinho: É um desejo do Fernando e nosso.
Xororó: E existe uma cobrança muito grande por parte do público também…
Chitãozinho: O Fernando já disse que a nossa vida daria um longa. Só não sabemos se ao estilo 2 Filhos de Francisco ou em ritmo de documentário.
Em algum momento, nesses 43 anos, vocês pensaram em carreira solo ou em parar?
Chitãozinho: Carreira solo, não… Mas em parar nós chegamos a pensar, sim.
Xororó: Logo no início, né, Chitão? Porque a gente estava no prejuízo (risos). Nosso pai era motorista de caminhão, a gente era em oito irmãos. Paramos de estudar quando chegamos a São Paulo (eles são de Astorga, no Paraná). O Chitão trabalhou durante mais de um ano como cobrador de ônibus lá em Mauá. Aí, começamos a cantar. E pintaram uns showzinhos…
A família precisando de dinheiro e vocês resolvem cantar!
Xororó: (risos) Mas um show só já dava mais dinheiro do que o Chitão ganhava em um ano. Só que, em uma turnê pelo Paraná… cara, deu tudo errado!
Chitãozinho: Ah, nem lembra. Uma geada forte, em 1975… e a gente voltou sem nada, só com o carro – e o tanque seco!
Xororó: Aí vendemos o carro. A gente estava pensando seriamente em parar, para poder ajudar a família. Porque show em São Paulo era mais difícil. A gente estava super pra baixo quando tocou no rádio lá de casa Tente Outra Vez, do Raul Seixas. Um sinal. O Chitão foi até a gravadora, pediu um adiantamento. Fechamos mais dois anos de contrato. Fomos tentar outra vez. Deu certo… Em 1979, veio o primeiro disco de ouro, o LP 60 Dias Apaixonado.
Chitãozinho: E a gente gravou Tente Outra Vez pela primeira vez para este DVD novo. Já estava mais do que na hora, né?
Vocês já gravaram vinis que venderam quase dois milhões de cópias. Hoje, um sucesso absoluto é vender 50 mil. “Culpa” da internet. Como estão trabalhando as novas mídias?
Chitãozinho: Tem de investir cada vez mais no digital. O mercado pede. No Brasil, 70% do que é vendido ainda é CD. Já nos EUA, no Japão, os arquivos digitais são 80% do total. Ou seja, vai acontecer aqui também. Eu, por exemplo, adoro o modelo digital. Nunca comprei tanta música na minha vida!
Xororó: Essa facilidade de acesso e o fato de se poder comprar uma única música vão diminuir muito a pirataria.
Pirataria foi um problema grande na carreira de vocês?
Xororó: Foi, porque houve uma mudança do mercado. De um dia para o outro, a gente passou a vender 10% do que vendia. As gravadoras todas quebraram. O artista teve de mudar de postura. Hoje, o CD é praticamente só divulgação; o dinheiro vem dos shows. E muita gente lança EPs diretamente na internet. O Roberto Carlos, por exemplo. A minha filha também fez isso.
Você ainda dá pitaco nas músicas da Sandy e do Junior?
Xororó: Na verdade, agora eles é que dão pitaco no que eu faço (risos). Nos primeiros dez anos, eu produzia os discos deles, então dava muita orientação. Sobre tudo, né? Mas, do quarto trabalho pra frente… já começou a mudar. E eu fui deixando. Hoje, a primeira pessoa para quem eu mostro uma música minha é a Sandy. E ela, muitas vezes, dá pitaco, fala para eu mudar uma palavra aqui, outra ali. Ou seja, inverteu… O legal da vida é isso: ensinar os filhos e, depois, poder aprender com eles.
E você, Chitão, dá pitaco no som do Alison?
Chitãozinho: Ah, eu não consigo mais dar palpite nos ensaios dele, não. O Alison tem uma banda de rock e, às vezes, eu ouço e acho que tá tudo meio errado, meio torto. Mas o problema sou eu… No fim, dá tudo certo!
Mas vocês sempre curtiram dar uma variada no som.
Xororó: A gente não gostava de música sertaneja de raiz, sabe? Queria um som mais potente, diferente, mais pop. Em 1972, estávamos participando de um show – parte de uma caravana que distribuía prêmios de um concorrente do Carnê do Baú. Primeiro, tocou uma banda, estilo rock’n’roll mesmo, para chamar o povão. Quando o Geraldo Meirelles, que era o apresentador, anunciou a gente, entramos nós dois, 10 mil pessoas na nossa frente, com duas violas desligadas… Pô, ninguém ouviu nada. Aí, pedimos um upgrade: violões elétricos. E o seu Geraldo achou que fazia sentido. Ele veio aqui na Casa Del Vecchio, uma loja na Rua Aurora, e encomendou um “casal de violas”. Na semana seguinte, a gente já tinha ensaiado as nossas músicas com a banda…
Chitãozinho: Ah, aí o bicho pegou, meu filho! (risos)
E como surgiu o apelido Chitãozinho e Xororó?
Xororó: Ah, foi curioso. Chitãozinho e Xororó são nomes de pássaros. E é o nome também de uma música, cujo compositor trabalhava com o seu Geraldo naquele tempo. Ele apelidou a gente, porque era uma canção conhecida. Só que eu e o Chitão achávamos que, como nome da dupla, era muito caipira…
E tinha alguma opção?
Chitãozinho: Tinha nada…
Xororó: Irmãos Lima… Mas seu Geraldo estava certo. O jeito foi a gente modernizar o som e as vestimentas.
Chitãozinho: E o cabelo…
Vocês são chatos no estúdio e nos shows?
Xororó: Eu sou libriano, muito perfeccionista. Mas, claro que a gente vai aprendendo com o tempo. No começo, fazíamos tudo. Até na hora de prensar o vinil a gente dava queria dar palpite.
Chitãozinho: Agora a gente já delega um pouco…
Xororó: Até porque não adianta: nem olhando cada detalhe fica 100% como a gente quer. O estresse era tanto que não valia a pena.
Chitãozinho: Hoje a gente cobra muito os outros…
Xororó: E uma certa distância ajuda a ver melhor o produto final. Com a internet, isso ficou ainda mais legal. O DVD Sinfônico, por exemplo, a gente acompanhou pela web, porque a mixagem foi feita nos EUA. Mas não dá para fugir do lema “é o olho do dono que engorda o porco”.
O que costumam ouvir no dia a dia? Têm preconceito quanto a algum ritmo?
Xororó: Nós ouvimos de tudo. E respeitamos, sabe? Claro que nem tudo a gente gosta ou compra. Mas é preciso estar antenado ao que acontece no mercado. Quer saber uma coisa engraçada? O ritmo que a gente menos tem em casa é sertanejo. Infelizmente, talvez seja até um defeito: a gente não consegue ouvir música por lazer. É sempre trabalho.
Chitãozinho: Mas a gente faz o que gosta e gosta muito do que faz. Esse é o segredo para se manter bem.
Fonte: D24am
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